1. Diz-se que Índia e Brasil são países com muitas semelhanças e algumas diferenças profundas. Na Índia, vive população difícil de ser governada, com numerosas etnias conflitantes e castas religiosas, funcionando como barragens de conservação para os enormes desníveis sociais. Mas a Índia, diz-se, produziu classe política e líderes nacionais entre os melhores do mundo. Citam-se, como exemplo, Gandhi, Pandit Nehru e aparentados deles que lhes foram sucessores, tais como Indira Gandhi e Jahawardahl Nehru. Povo destroçado e dividido, elite política de primeira!
2. No Brasil, diz-se, é o contrário. População unificada pela mesma língua e cultura, povo tolerante e cordial, propenso mais à fraternização do que ao conflito; povo escorchado por cinco séculos de exploração por parte de suas elites. No entanto, gente que parece não perder a alegria de viver e a esperança de que este país dará certo. Povo fácil de governar e de enganar. Mas suas classes dirigentes? Tidas como as piores do mundo: predadoras da riqueza nacional e insensíveis aos sofrimentos de seus conterrâneos . Uma classe política que historicamente usa o povo como escada para subir na vida e refestelar-se em seus privilégios. Povo bom e políticos corruptos!
3. As afirmações acima são confirmadas por reportagem na VEJA sobre o martírio perpetrado pelos fundamentalistas religiosos hindus contra minorias étnicas muçulmanas e cristãs. A Índia – diz a revista – é país de profundas rivalidades religiosas, que com freqüência explodem em banhos de sangue e selvageria. A violência ocorre geralmente entre hindus e muçulmanos. Nos últimos meses a intolerância religiosa partir para cima dos cristãos, 2% da população, com assassinatos de padres e pastores, rapto e estupro de religiosas e ataques a igrejas, cemitérios e escolas. Restaram centenas de mortos e feridos e um rastro de destruição. O episódio mais chocante aconteceu com um missionário australiano, queimado vivo com os filhos de 8 e 10 anos.
4. A intolerância religiosa, é uma constante na história hindu. Os ingleses, que colonizaram o país no século XIX, separaram as comunidades as comunidades hindus, as muçulmanas e as das demais religiões. Garantiram uma paz relativa, mas aprofundaram as diferenças. A sociedade indiana continua profundamente marcada e dividida pela religião. Um país segmentado em castas, etnias e religiões, onde se falam 24 idiomas e que apresenta profundas desigualdades sociais, com 35% da população imersa em pobreza absoluta, a Índia tem sido terreno fértil para toda espécie de violência. Ao tempo do colonialismo europeu, os ingleses ocupantes eram identificados com o cristianismo. Tais cristãos cooperaram para arraigar incuravelmente as sementes da violência no seio de um mesmo povo. Em vez de irmãos e conterrâneos, inimigos de sangue e fogo.
5. Reitere-se o que vem sendo repetido em nossas reflexões: a religião, que trabalha com o conceito fundamental de Deus como Pai de todos, tem sido usada para dividir os irmãos e plantar entre eles sementes de violência. A história da cristandade está também tingida de sangue e destruição, desde as inquisições medievais e as guerras religiosas. Tudo provocado inicialmente por uma competição de frases teológicas e posteriormente pela discrepância entre as afirmações teológicas e a vida real dos detentores do poder eclesiástico. Não é proibido sonhar: teria sido tão diferente e a história, se tivesse sido reconhecido o direito ao livre pensamento e os poderes houvessem funcionado para incentivar a beleza e a riqueza da diferença e do pluralismo. Não estaríamos nós cristãos obrigados a suplicar o justo perdão por tanto crime cometido.
6. Em anos passados, pregou-se e rezou-se contra os inimigos de Cristo. Acho que com pontaria profundamente equivocada. De tudo que observei e li, não existiram nem existem inimigos de Cristo. Nem do Evangelho, nem da proposta de igualdade fraterna; nem da utopia cristã de um mundo bom. Inimigos da Igreja foram gerados pelo exercício prepotente de autoridades eclesiásticas. Tem razão o papa João Pulo II, quando afirmou que a Igreja não precisa pedir perdão de pecados, porque ela é santa e não peca: ela é a própria pessoa de Cristo, no Espírito Santo presente naqueles que buscam a justiça. Já os homens da Igreja temos historicamente todas as razões de batermos no peito e, aprendendo as lições, pararmos com nossas arrogâncias simplórias.
terça-feira, 2 de outubro de 2007
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