BUSH USANDO O NOME DE DEUS EM VÃO - O semanário NEWSWEEK, de circulação mundial, publicou, não faz muito, matéria de capa, com o pomposo título: BUSH E DEUS. A minuciosa reportagem revela como o presidente Bush e seus assessores mais próximos são pessoas intensamente religiosas. Bush, por exemplo, começa o dia lendo a Bíblia. Após o café, chegam seus assessores e, antes de começar o trabalho, eles se dão as mãos e rezam o Padre-nosso de olhos fechados. Agora estão prontos para a tarefa que, naqueles dias, era fazer chover bomba em cima do Iraque, estraçalhando centenas de inocentes: velhos, mulheres e crianças. Pela cara sorridente e irônica de Bush, na entrevista do dia seguinte, conclui-se que ele e os seus tiveram uma noite tranqüila e bem dormida: - “Ora, por que não? Deus está do nosso lado!”
TUDO DE BOM NESTA VIDA E DEPOIS O CÉU – Basta abrir os olhos e ver: há infinita diferença entre ser religioso e ser cristão. Existem católicos que não são cristãos, existem cristãos batizados que são apenas pagãos. A fita métrica para medir a distância entre uns e outros chama-se Jesus Cristo. Os fariseus do tempo de Jesus ficaram, na história, como protótipos de religiosidade. Pois foi seu tipo de religiosidade que os fez perder o bonde da salvação: um bonde chamado Jesus. Religião formalista e desligada dos sentimentos, sobretudo da compaixão, cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração. Não reconheceram em Jesus o Embaixador divino da misericórdia do Pai. Entraram pelo cano e suas observâncias rituais não serviram para nada. Puro lixo religioso! Adeptos do prazenteiro equívoco chamado “teologia da retribuição”, fariseus de ontem e de hoje alimentam a presunção de que Deus é obrigado a retribuir-lhes as rezas e coletas, na forma de sucesso material em seus empreendimentos.
FORÇANDO A MÃO DE DEUS A ASSINAR FALSIFICAÇÕES – Nos morros do Rio e em favelas da Baixada Fluminense onde trabalhei, populações indefesas eram forçadas a comprar proteção aos chefes das gangues. Tinham de pagar pedágio aos bandidos, para não serem molestados. Se não pagassem morriam. Eis parábola chocante para certo tipo de religiosidade. Se pago, tenho de ser protegido. Se pago a Deus, Deus é obrigado a fazer minha vontade. Deus é meu aliado, sirvo a Ele e Ele serve a mim. Dou-lhe reza e dízimo e Ele dá-me sucesso na vida. Deposito o investimento e exijo a mercadoria. Em minha vida tudo dá certo, porque Deus está do meu lado. Minha prosperidade é sinal claro de predileção divina. E os pobres e miseráveis? “Ora, eles se virem, não fui eu que fiz o mundo!” Tal mentalidade religiosa blasfema, entranhada também em meios batizados, foi a grande tragédia israelita, que pregou Jesus na cruz. Jesus não aceitou assinar falsificações em nome de Deus, nem mesmo no momento supremo do aparente abandono.
DEUS É MEU ALIADO CONTRA MEUS INIMIGOS – Quem lê o Antigo Testamento e reza os Salmos constata: idolatria, apelação a deuses falsos, representava o crime maior e o pecado mais grave. Idolatria significa criar Deus à imagem e semelhança dos meus interesses. Isso era punido com a morte! Os salmos, que os padres rezamos todos os dias, estão repletos de rogos de vingança e de explosões de júbilo, pela destruição dos inimigos. Como explicar? Aquilo era apenas um momento primitivo e passageiro, na busca do Deus verdadeiro como Ele é, em sua essência. Percepção vingativa e retribuidora, ainda pagã, cuja treva odienta e cujo veneno vingativo só foram plenamente espantados por Jesus, em sua revelação de Deus, Pai de todos nós, e Deus Filho, irmão de todos nós. Somos todos irmãos, eis o resumo concreto da Lei divina. Daí o vazio ressecado e irredento de quem se arroga constituir a divindade como protetor de sua fortuna e vingador implacável das ofensas que nos fazem. Deus vira ídolo para me dar sucesso na vida e para realizar meus malefícios e vinganças.
INTENSAMENTE RELIGIOSO E QUILOMETRICAMENTE DISTANTE DE DEUS – Os filósofos do Iluminismo, séculos atrás, profetizaram o fim da religião: - “Quando atingirmos a racionalidade e dominarmos a natureza, não precisaremos mais de deuses!” Razão e progresso tornariam a religião coisa do passado, inútil no presente. Sucede o contrário: as previsões dos iluministas falharam. As ideologias milenaristas de avanço material e bem-estar coletivo se esvaziaram. Políticas que garantiam igualdade e justiça social viraram opressão. Com tanta pedra no caminho, a humanidade parece que tornou-se cada vez mais religiosa. Multiplicaram-se as igrejas. Tem religião para todos os gostos. Deus deve ser o nome mais usado, em todos os países e em todas as línguas. E os frutos? Onde estão os frutos bons da presença de Deus na história? Octávio Paz, intelectual e patriota mexicano, bradava indignado, observando a miséria de seu povo: - “Pobre México; tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos!”
CINCO IGREJAS EM UMA ÚNICA PRAÇA – Quem conhece a Bahia sabe que não minto: no perímetro da Praça da Sé, centro histórico de Salvador, eleva-se majestosamente uma meia dúzia de belíssimas igrejas coloniais. Sabe-se hoje, das pesquisas históricas, que boa parte das obras foi financiada por importadores de escravos. A escravatura começava a sofrer rejeição social e os impostos e doações para construção de igrejas arrancavam espinhos das consciências e azeitavam a corrupção da burocracia. Hoje sabe-se bem que Deus não cabe em gaiolas, por douradas que sejam. A “teologia da retribuição” e o uso do Nome de Deus para legitimar procedimentos pagãos e idolátricos transformam formalismos religiosos, templos de pedra e corações empedernidos, em gaiolas vazias. Presumíamos trancar Deus dentro delas, a fim de obrigá-Lo a cantar para nós. Plagiando o filósofo aí de cima: pobres dos Bush e pobres de nós, tão próximos da arrogância batizada e tão distantes do Deus de Jesus Cristo!
Com amizade - Luís
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
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