segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

DEUS ÚNICO, PAI DE TODOS, FUNDAMENTO DA REAL FRATERNIDADE IGUALITÁRIA

ANTES, EXÉRCITO ESTÁVEL DE MERCENÁRIOS; DEPOIS, O BEM DE TODOS É DEFENDIDO PELA UNIÃO DE TODOS - Os reis do Egito e de Canaã tinham seus exércitos, que eram o instrumento da dominação. Em Israel, havia o compromisso de solidariedade e de ajuda mútua. Em épocas de crise, vinda das ameaças externas, todas as pessoas, de todas as tribos, capazes de usar armas, organizavam-se na luta contra o inimigo comum: a força repressiva dos exércitos dos reis de Canaã e dos filisteus. O Livro dos Juízes descreve essas lutas. Também aqui, o novo sistema revelou sua fraqueza.. Não foi capaz de manter-se contra as ameaças externas e, no fim, foi forçado a aceitar a monarquia de Saul e de Davi e também criar um exército estável de mercenários. Assim, pela porta dos fundos, voltou, para dentro do povo, o germe destruidor do novo sistema igualitário. Os reis de Israel foram consolidando seu poder pessoal autocrático e assim o novo sistema se desintegrou aos poucos. São os profetas, em sua crítica indignada contra a desigualdade social, que não deixaram o ideal morrer.

ANTES, MONOPÓLIO DO SABER; DEPOIS, SOCIALIZAÇÃO DO SABER - Adotou-se o novo sistema de alfabetização, baseado no abecedário novo, formado de apenas 25 sinais ou letras. Assim, o saber se tornava acessível para todos e se eliminava o monopólio do saber, que caracterizava a sociedade do Egito. Estas são algumas das características do novo sistema social, que começa a ser implantado na Palestina, sob a liderança do grupo que veio do Egito; Apresentamos aqui as seis características que descrevem o lado econômico, social e político. Mas este é apenas um lado da medalha. O outro lado é a nova organização da religião, onde se expressa a mística que animava tudo isso. Eis então, a seguir, algumas das características da vivência religiosa do sistema igualitário:

ANTES, VÁRIOS DEUSES; DEPOIS O DEUS ÚNICO - A luta ferrenha do povo da Bíblia contra os deuses é o outro lado de sua luta contra o sistema explorador, que se legitimava pelo recurso a vários deuses. A insistência nos vários deuses permitia a centralização do poder nas mãos do rei. Muitos deuses dividiam o povo em “torcidas” e o deus mais forte, o do faraó naturalmente, dominava os outros deuses e seus súditos. A insistência no Deus Único permitia a descentralização do poder nas mãos do povo. Se Deus é um só, então todos são iguais! Por isso, a fé no Deus Único é necessariamente libertadora de toda forma de discriminação social ou racial. É a base para a igualdade fundamental dos direitos de todos.

FÉ NO DEUS ÚNICO, FUNDAMENTO DE TUDO - Você pode constatar, abrindo sua Bíblia em três lugares: no Livro do Êxodo (15,1-21), no 1º.Samuel (2,1-10) e no Livro dos Juízes(5,1-32). Esses textos relatam três cânticos de vitória, obtida pela ajuda de Deus. Eles mostram o alcance da fé no Deus Único, para a derrubada do sistema opressor dos reis de Canaã e para a criação de uma sociedade igualitária. Outros textos de grande profundidade são também os seguintes: 1) Isaías, 40 até 55, escrito no tempo do cativeiro, representa e reflete o ponto mais alto do Antigo Testamento. 2)Deuteronômio, 1 até 11, traz uma apaixonada exortação ao povo, para se comprometer novamente com o Deus Único e com sua Lei. É mais ou menos do ano 640 antes de Cristo, tempo da reforma, anterior ao cativeiro. 3) 1º Reis, 18,1-46, onde se descreve uma luta concreta entre o Deus Único e os ídolos falsos, conduzida pelo profeta Elias, no Monte Carmelo. Elias lutou contra os falsos profetas que, usando os ídolos, legitimavam, em nome da religião, a reintrodução do sistema opressor dos reis de Canaã.

O DEUS ÚNICO NÃO LEGITIMA OPRESSÃO, MAS ORDENA LIBERTAÇÃO - Quando se diz na Bíblia que Deus é um só, isto não deve ser entendido, em primeiro lugar, como afirmação numérica, no sentido de “Deus uno”, mas no sentido de exclusividade: “Para o povo, Deus é só este, que se apresentou como Javé, Deus Libertador!”. Este Deus Javé (que é nosso Deus!) é diferente dos outros deuses. Ele não existe para legitimar a opressão, mas existe para libertar e para criar uma convivência fraterna entre os homens. Ele se comprometeu com este Projeto e o garante. Quem tiver a coragem de se comprometer com Ele não terá vida fácil, pois terá de lutar contra toda forma de opressão. “Amar este Deus é o mesmo que amar o próximo como a si mesmo”, dirá Jesus mais tarde, resumindo toda a Lei e os profetas, em poucas palavras. Este Deus se apresenta como “marido” do povo, marido fiel. Ele espera que sua “noiva”, o Povo escolhido, lhe seja fiel e lute por uma nova sociedade, contrária à dos reis do Egito e de Canaã.

BUSCA DO DEUS ÚNICO TOMA A FORMA DE LUTA PELA JUSTIÇA – A fé no Deus Único é o ponto alto da Bíblia. É no povo que luta por uma convivência justa e fraterna que Ele pode ser encontrado. É lá que aparecem os traços do seu rosto. Sua presença no meio do povo é a raiz última da alegria, da esperança e da liberdade humana. Através de Jesus, Ele diz: “Sem mim, nada podeis fazer!” A sua presença fiel e amiga, percebida na vida, devolve ao oprimido a sua consciência de gente e cria aí, na margem da sociedade opressora, o espaço para um novo começo, para uma nova criação. Ele é a clarabóia da vida humana. Quem não O conhece vive tranqüilo sem Ele. Quem O conheceu, já não pode imaginar a vida sem Ele. E a sua vida passará a ser uma busca permanente deste Deus. A busca do Deus Único e Verdadeiro tomará concretamente a forma da luta por uma sociedade igualitária e fraterna. A pergunta mais séria que o cristão se deve fazer, todos os dias, é essa: “Em que Deus eu creio?”

Com amizade - Luís

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