JULGAVA-SE UM MAGANO E DESCOBRIU-SE UM TROUXA – Padre Jonas Habib apresentou, na televisão, seu amigo convertido. Este, empresário endinheirado, esteve à disposição do capeta, para todas as sugestões, pois dinheiro não lhe faltava. Achava-se esperto e bem sucedido, em meio à mediania do comum dos mortais. Deixava a família em casa e ganhava a rua. Dava as costas à felicidade onde ela estava e buscava a felicidade onde ela não se encontrava. Crescido em família católica, entendia que Deus é patrão rigoroso, interessado em nossa obediência; que a Lei de Deus era interesse de Deus. Era preciso libertar-se da dependência! A conversão não foi um beatério, mas a certeza de que antes, na inútil liberdade, estava sendo trouxa. Decidiu-se pela esperteza: encontrar a felicidade onde ela aguardava por ele. Descobriu que a Lei de Deus é constituição de nossa liberdade. O Projeto divino interessa a nós e não a Deus, a Quem nada temos a acrescentar.
NÃO USAR O NOME DE DEUS EM VÃO – O nome de Deus é Javé. Isto quer dizer: presença libertadora no meio do povo. “Em vão” quer dizer “coisas vãs”, ligados ao sistema dos ídolos ou falsos deuses. Fica vetado usar o nome de Deus, para obter coisas legitimadas pelo sistema dos ídolos. Não se pode usar o Nome de Deus libertador, para legitimar a opressão. Por isso, não se pode ceder à tentação da magia, que usa as imagens, a fim de forçar Deus dentro do seu próprio esquema. Ou seja, é proibido tentar fechar Deus dentro dos limites estreitos das ideologias humanas. Deus não pode ser reduzido ao tamanho do pensamento humano.
OBSERVAR O DIA DO SENHOR – Para aquele povo, o sábado, era o sétimo dia. Sábado é palavra hebraica, que quer dizer “sétimo”. Para nós, o sétimo dia é o domingo. Para outros, é o sábado. Para os árabes, é a sexta-feira. É uma questão de tradição ou costume. O importante não é o dia da semana; o importante é o sentido do descanso no sétimo dia. Hoje as empresas dão um dia de descanso, para que os operários recuperem sua força e possam produzir mais. Hoje, o descanso é organizado em vista da produção. Na Bíblia, é o contrário. O sentido do trabalho e da produção é o seguinte: chegar, um dia, a criar um mundo de paz e alegria para todos. A observação semanal do sábado funciona como “amostra grátis” da futura paz, que hoje estamos construindo pelo nosso trabalho.
LEI DE DEUS PROPUGNA A CONVIVÊNCIA FRATERNA – Os Mandamentos seguintes, 4 até 10, definem como deve ser o relacionamento entre as pessoas, famílias, clãs e tribos, dentro do novo sistema de vida, conquistado pelo povo. O relacionamento amoroso e fraterno começa em casa, na família. Família é escola do amor universal a todos os irmãos, filhos de Deus. Por isso, o Mandamento de RESPEITAR OS PAIS não se refere apenas à pequena família, mas também e sobretudo aos pais da família patriarcal, isto é: aos anciãos que lideram a comunidade. O Quarto Mandamento defende não só a família, mas também e sobretudo a comunidade. A família de sangue é o lugar da afetividade espontânea, onde aprendemos a amar. Primeiro o amor fácil aos parentes. Para aprendermos a amar todos os filhos de Deus, irmãos na família maior.
RESPEITAR E DEFENDER A VIDA – O Mandamento de NÃO MATAR defende o direito que o outro tem à vida. Esta lei de defesa da vida era tão forte, que chegavam a dizer que aquele que premeditadamente matava alguém não merecia o dom da vida e deveria ser morto. Aparentemente, parecia uma contradição. Mas, pensando bem, é a mais alta expressão de respeito à vida. Isto explica como, no código da Aliança, tem tanta pena de morte. Era a maneira de pensar do povo, naquele tempo. Era o povo antigo, em suas trevas, buscando entender a vontade de Deus. Eles tinham uma cultura diferente da nossa. Isto não quer dizer que se deve reintroduzir a pena de morte; mas quer dizer que se deve ou que se deveria ter, hoje, o mesmo altíssimo respeito pela vida do povo. O que adianta ter banido da legislação a pena de morte quando, no Brasil, a cada minuto, morre uma criança? Quando morre tanta gente, por absoluta falta de condições mínimas para viver? O sistema que ostenta liberalidade por ter banido a pena de morte, mata de mil maneiras e é absolutamente condenado pelo Quinto Mandamento da Lei de Deus.
RESPEITAR OS DIREITOS DO IRMÃO – NÃO ROUBAR pede respeito aos meios de vida do outro. Favorece a confiança mútua, a segurança de vida, sem a qual a vida em sociedade se torna insuportável. NÃO MENTIR é a última base do verdadeiro relacionamento libertador, pois este não existe sem amor à verdade. Sem isso, o diálogo entre os homens é destruído na raiz e a convivência social se torna impossível. Por aqui, a gente percebe que o Projeto de Deus não visa só a uma nova estrutura econômica e política, mas à renovação e à conversão total e radical de cada membro do povo. NÃO DESEJAR O QUE PERTENCE AOS OUTROS é mais que não roubar. É preciso arrancar, de dentro de si, o desejo de enriquecimento, a vontade de acumular, a ganância que leva à exploração do semelhante. Assim se elimina uma das sementes da opressão, que estava na origem do sistema dos reis de Canaã..
JESUS NÃO VEIO ABOLIR MAS APERFEIÇOAR O DECÁLOGO – No capítulo 5 de São Mateus, Jesus retoma alguns dos Dez Mandamentos e revela novamente o seu objetivo: não veio abolir a Lei, mas complementá-la e aperfeiçoá-la.. Isto é: veio realizar o ideal do Projeto de Deus. Isto mostra que o Projeto de Deus não é uma idéia já pronta. É algo a ser construído, pelos homens que crêem em Deus e na fraternidade. Em outras palavras, a Lei de Deus diz mais respeito à nossa felicidade na convivência do que a eventuais interesses de Deus. Nada podemos lhe dar, em nada lhe podemos acrescentar. Por isso, tudo o que d’Ele nos vem diz respeito a interesses nossos. No caso, aos interesses do Projeto de Deus: fraternidade igualitária e feliz em nossa convivência. Por isso, tantas vezes aparece, nos salmos, que seguir a Lei de Deus é suprema sabedoria, nossa esperteza maior. A felicidade humana não pode estar longe do Projeto de Deus, em lugares distantes de sua Casa paterna.
Com minha amizade - Luís
sexta-feira, 11 de janeiro de 2008
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