quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

PROJETO DE DEUS

IDOLATRIA, A GRANDE INIMIGA DA IGUALDADE FRATERNA – Ser membro de Círculo Bíblico e aluno de Carlos Mesters faz de você automaticamente amigo meu. Tenho ligação cada vez mais afetuosa com a Bíblia. Não mais como tradicional coleção terapêutica de versículos estanques, manipulados ao sabor da subjetividade dos pregadores, mas História orgânica – com princípio, meio e fim – das pessoas se libertando. História da humanidade, na complicada busca de Deus, em meio a todos os desvios possíveis e imagináveis. Nos albores do Antigo Testamento, o pessoal já desconfiava que o grande Inimigo da libertação era a idolatria. Deuses múltiplos separam o povo e consequentemente dividem sua força política. Tal percepção permanece a pedra fundamental, na construção da estrada para a liberdade. Muitos deuses significam muitos grupos, muita rivalidade, muita divisão. Um só Deus significa um só Pai, uma só família de irmãos. Eis o rosto neo-testamentário da aversão vétero-testamentária à idolatria. A proposta subversiva da igualdade fundamental de todos os homens é, milhares de anos, anterior a Marx e a todos os outros nossos humanos e frágeis revolucionários.

MENOS ESTRIDENTE, PORÉM MUITO MAIS PERIGOSO - Mas lá vou eu caindo fradescamente no facilitário do fervorinho. Não é para isso que escrevo as presentes linhas. Sua pertença ao Movimento Bíblico motiva-me a canalizar mais água para os seus moinhos. Tive convivência prolongada, meio esporádica, com Frei Carlos Mesters, certamente um dos meus mais convincentes gurus. Há teólogos zoadentos e estridentes, mas realmente subversivo é Carlos Mesters, que conseguiu perfurar o chão pisado da Bíblia e dele fez jorrar combustível novo da melhor qualidade. Leio e releio, sempre com gosto e proveito, o que encontro de escritos seus. Estou, quase sempre, com algum de seus livros , aberto ou marcado, perto de mim. Nas últimas semanas, reli COM JESUS NA CONTRAMÃO e O PROFETA JEREMIAS, BOCA DE DEUS, BOCA DO POVO. Sob o breviário, para emenda da reza com a boa leitura, permanece, há meses, DEUS,ONDE ESTÁS? Tudo ouro da melhor qualidade!

PRIVADOS DO PARAÍSO SEM CULPA DE NINGUÉM - Gostei imensamente do resumo que nosso Carlos Mesters fez sobre o Projeto de Deus. O melhor resumo que já vi da Bíblia, sobretudo do sentido dinâmico da Bíblia, história unitária da Povo de Deus. Não mais queijo velho, fatiado em pedacinhos homeopáticos, inúteis e dispensáveis. Não sei se você conhece e o resumo ao qual me refiro. Eu gostaria de repassar a você e aos colegas ipuaranenses; Naquele tempo, sem culpa de ninguém, o estudo da Bíblia ainda era arqueológico e pouco libertador, por isso mesmo pouco atraente. Os heróis desbravadores ainda se encontravam estigmatizados, com suas teologias no INDEX. Mais tarde, as visões se clareando e espantando as trevas, alguns deles, após o Vaticano II, até viraram cardeais. O Concílio Vaticano II certamente foi erigido sobre os alicerces de “teólogos suspeitos”, como Karl Rahner e outros luminares. Conheci pessoalmente o santo velhinho em Innsbruck, em uma de minhas viagens com Dom Adriano;

HISTÓRIA DO POVO BRASILEIRO, HISTÓRIA DO POVO DE DEUS – Mas vamos ao assunto, a ver se você constata que já tem as informações ou se me dá a tarefa e o prazer de encaminhar-lhe a descrição do PROJETO DE DEUS, conforme as anotações de Frei Carlos Mesters. Vamos lá! A bíblia não foi escrita para ocupar o lugar da vida, mas para nos ajudar a melhor entender o seu sentido. Não é também um livro de receitas sociais, econômicas, políticas, pastorais e nem um conjunto de doutrinas. Ela é a história de um Povo. É a história de um Projeto de Deus que, apesar de muita luta, sofrimento, ameaça, dúvida, fraqueza, recuo, divisão, não chegou a se realizar totalmente. Mas deixou a certeza de que o Projeto é possível. E só conseguiremos compreender esse Projeto, se tivermos presente não só a situação do Povo, quando Deus o chamou para realizar o seu Projeto, mas também a situação em que vive nosso povo hoje.

FERMENTO TRANCADO NA LATA, SAL TRANCADO NO POTE - Interpretar a Bíblia sem olhar a realidade da vida do povo de ontem e de hoje é o mesmo que manter o sal fora da comida, a semente fora da terra, a luz debaixo da mesa. Por que a realidade da vida é tão importante, para a gente poder entender a Bíblia? É porque a Bíblia não é o primeiro livro que Deus escreveu para nós, nem o mais importante. O primeiro livro é a natureza, o mundo criado pela Palavra de Deus; são os fatos, os acontecimentos, a história, tudo o que existe e acontece na vida do povo; é a realidade que nos envolve; é a vida que vivemos. Deus quer comunicar-se conosco através do “livro da vida”. Por meio dela, Ele nos transmite sua mensagem de amor e justiça. Mas nós, homens e mulheres, por causa dos nossos pecados, organizamos o mundo de tal maneira e criamos uma sociedade tão torta, que já não é mais possível perceber claramente o apelo de Deus, que existe dentro da vida que vivemos. Por isso, Deus escreveu um segundo livro, que é a Bíblia.

A VIDA É MAIS IMPORTANTE DO QUE A BÍBLIA – Ora, esse segundo livro não veio substituir o primeiro. A Bíblia não veio ocupar o lugar da vida. É o contrário! A Bíblia foi escrita para nos ajudar a entender melhor o sentido da vida que vivemos e a perceber mais claramente a presença da Palavra de Deus, dentro de nossa realidade. Santo Agostinho resumiu tudo isso da seguinte maneira: A Bíblia, o segundo livro de Deus, foi escrita para nos ajudar a “decifrar o mundo, para nos devolver o olhar da fé e da contemplação” e para “transformar toda a realidade numa grande revelação de Deus”. Por isso, quem lê e estuda a Bíblia, mas não olha a realidade do povo de ontem e de hoje, é infiel à Palavra de Deus e não imita Jesus Cristo. Para que nossa leitura e nosso estudo da Bíblia possam trazer o resultado que dele esperamos, é necessário ter presente a situação em que vive nosso povo de hoje e é necessário ver de perto qual era a situação em que vivia o povo da Bíblia, quando Deus o chamou para realizar o seu “Projeto”.

ALIMENTANDO-NOS DAS DEFICIÊNCIAS DE IPUARANA? Caro Duarte, pela dica aí de cima, dá para identificar se chovo no molhado. Se, no caso, for seca em sua horta, me avise, que continuarei “fazendo chover”. Nunca me canso de sentir a importância fundamental das presentes informações, sobre o Projeto de Deus. Elas sempre me alimentam e talvez façam falta a mais de um colega que, em mundo secularizado, competitivo e personalista, ainda guarda idéias ultrapassadas e mais ou menos inúteis sobre o Livro mais revolucionário que já foi escrito. Seu Autor é o verdadeiro Renovador da face da terra. Em nosso tempo de Ipuarana, no entanto, não se havia ainda chegado a tal surpreendente clareza. Sem culpa de ninguém, pensava-se ainda diferente, o mundo ainda não havia mudado. Avise se é útil a continuidade das presentes informações, que repasso aos colegas com o maior prazer!

Um comentário:

Unknown disse...

Muita boa todas as suas observações, mas gostaria de saber um pouco mais sobre o resumo feito pelo Frei Carlos Mesters sobre as característica do Projeto de Deus.

Obrigada!

Morena Campello