terça-feira, 25 de dezembro de 2007

SITUAÇÃO GERAL DO POVO NO COMEÇO DA BÍBLIA


O POVO ENTRE 1800 A 1200 ANTES DE CRISTO
- Vamos em frente, em nossa reflexão sobre o Projeto de Deus, como magistralmente intuído por Frei Carlos Mesters. Qual a situação do Povo, quando Deus o chamou para sair do Egito? Quais eram as condições de vida do Povo, quando Deus começou a preocupar-se com ele? A gente sabe que o começo da história narrada na Bíblia se deu entre o ano 1800 a 1200 antes de Cristo, lá na Palestina. Foi com Abraão, depois com Moisés, que surgiu por lá uma nova consciência e uma nova maneira de se viver a vida humana. Foi a semente de uma longa caminhada. Foi crescendo aos poucos. O resultado é a Bíblia, que levou mais de mil anos para ser escrita.

COMO VIVIA O POVO E O QUE QUERIA – Qual era a condição da população, bem no começo da caminhada, e como esta situação exerceu influência sobre o apelo que Deus dirigiu àquele povo? Quando Abraão e seus descendentes andavam pela Palestina em busca de um pedaço de terra, tentando formar um novo povo e buscando uma vida um pouco mais abençoada, e quando os seus descendentes gemiam na escravidão do Egito, a situação econômica, social, política e religiosa do povo era a seguinte:

“HICSOS”, OS IMPERIALISTAS DE ENTÃO – Na Palestina, umas poucas famílias, vindas do exterior, chamadas “hicsos”, conseguiram estabelecer seu domínio sobre os moradores daquelas terras. “Hicsos” quer dizer “dominadores de terras estrangeiras”. Os “hicsos” possuíam uma tecnologia mais avançada e tinham armas mais modernas, isto é, usavam carros puxados a cavalos. Os antigos moradores da Palestina eram obrigados a continuar trabalhando a terra e a entregar o excedente da sua produção aos “hicsos”. Estes cresceram, assim, em poder econômico e tentaram fortalecer a sua posição, através de uma nova organização política.

POVÃO DESUNIDO EM SEUS GRUPOS RIVAIS - O resultado foi o seguinte: desde o ano 1800 antes de Cristo, a Palestina ficou dividida em pequenas cidades-estados, independentes entre si e governadas pelas famílias mais ricas, associadas aos “hicsos”. Estes levaram em frente sua marcha para o Sul e conseguiram ocupar o Norte do Egito. De lá, continuaram a exercer o seu domínio sobre a Palestina, através da estrutura política, por eles mesmos instalada. Mesmo depois que os “hicsos” foram expulsos do Egito, essa mesma estrutura de dominação continuou a existir. Os faraós continuavam a manter sua influência, na região da Palestina.

RICOS MONTADOS NO SUOR DOS POBRES - As cidades-estados da Palestina se fortaleciam. Rivais entre si, tiveram que defender-se umas das outras com a construção de muralhas enormes, encontradas pelos arqueólogos. Para poder manter o seu domínio pela força, cada cidade-estado foi criando o seu pequeno exército estável de mercenários, um grupo de fiscais para cobrar os impostos, uma administração para poder governar, um grupo de artesãos para o conserto dos arreios dos cavalos e dos carros de guerra Criou-se, assim, um sistema que, por sua própria natureza, exigia gastos cada vez maiores: pagar a construção das muralhas, dos palácios, dos armazéns, pagar os soldados mercenários; pagar as guerras e os estragos das guerras etc..As famílias ricas se declaravam proprietárias e davam aos seus chefes o título de reis. Os reis de Canaã!

SOFRIMENTO DO POVO OPRIMIDO – O povo oprimido do campo dividia-se basicamente em três grupos: 1º) Os agricultores que viviam presos à sua terra, prisioneiros da situação em que nasceram. Não era possível para eles qualquer revolta contra a opressão a que eram condenados, pois dependiam da terra para poder viver.
2º) Os agricultores que, ao mesmo tempo, eram criadores de gado (ovelhas e cabras), também chamados de seminômades. Eles podiam abandonar a terra, levar consigo o gado e procurar pasto em outro canto. O desejo de liberdade e de revolta era mais vivo entre eles, pois tinham um pequeno espaço de independência.
3º) Os chamados “hapiru” (hebreus?). Era gente que se revoltou, se organizou em bandos armados e que, para poder viver, ou atacavam os agricultores e seminômades, ou se colocavam a serviço de um rei, para apóia-lo na luta contra outro rei. Abraão e seus descendentes, ao que tudo indica, pertenciam ao segundo grupo, mas muitos membros do clã pertenciam também ao terceiro grupo.

SENTIMENTO GENERALIZADO DE REVOLTA – A situação era a seguinte: entre o povo oprimido, havia um sentimento generalizado de revolta. Havia explosões violentas, seguidas de repressões mais violentas. Mas não havia alternativas. Nem mesmo os “hapiru” (3º grupo) tinham um projeto alternativo. Eles procuravam uma saída, mas sem pensar que fosse possível alterar o sistema geral de opressão que, desde 1800, escravizava o povo. A saída que os do terceiro grupo encontravam eram dentro das possibilidades que o próprio sistema oferecia. Todos estavam presos dentro da ideologia do sistema dominante. O que vinha a ser essa ideologia do sistema dominante? Era o seguinte: todo o sistema era legitimado e justificado pela religião!

RELIGIÃO COMO INSTRUMENTO DE DOMINAÇÃO – Havia vários deuses. O Deus Supremo era o deus do faraó do Egito. Os deuses inferiores eram os deuses da terra de Canaã. Assim, o céu nada mais era do que um espelho do que se passava na terra. A hierarquia entre os deuses legitimava a sociedade dividida em classes. A aristocracia dominava os agricultores, que eram explorados. Nessa religião, os intérpretes dos deuses, os sacerdotes, eram latifundiários. A eles convinha que o sistema não mudasse. O culto era monopolizado pelos sacerdotes e o povo não tinha acesso a ele. O saber era monopólio da aristocracia, que mantinha o povo na ignorância, pois saber ler e escrever no Egito só era possível, após longos anos de estudo na “escola do faraó”. A escrita do Egito era extremamente complexa e complicada. Finalmente, no culto, eram recitados os “mitos da criação”, que confirmavam a situação: assim como o mundo um dia foi criado, assim sempre haverá de ser. Querer mudar alguma coisa era o mesmo que revoltar-se contra os deuses.

EM TAL MUNDO ABRAÃO DEU OS PRIMEIROS PASSOS – Esta era a situação social, política e religiosa do povo, no tempo em que Abraão andava pela Palestina e em que Moisés atuava no Egito. Não havia muita diferença entre a Palestina e o Egito. Em ambos os países, vivia um povo oprimido, despedaçado por séculos de exploração. Não era uma raça. Era gente marginalizada, perdida, desligada das suas tradições, vinda das raças, povos e tribos os mais diversos. O que unia o povo não era a raça, nem o sangue, mas a opressão, o desejo de ter uma terra que fosse sua e a vontade de ter uma vida mais abençoada. Ora, é dessa mistura de gente pisada e marginalizada que vai nascer um povo, o POVO DE DEUS, cuja história é narrada na Bíblia. Como se deu isso, veremos a seguir..

Caro Duarte, sobre a utilidade das presentes informações, dê seu retorno, que certamente encoraja a motivação. Com, minha amizade! - Luís -

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom. Estou "adorando" essas matérias. Só não estou encontrando o item Projeto de Deus III. Me ajude por favor..