sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

POR MUITAS CURVAS, O ANTIGO CAMINHA PARA O NOVO

NO DESERTO COMEÇA A FORMAÇÃO DO POVO – O grupo de Moisés, saído do Egito, se fortalece no deserto e, sob a liderança de Josué, entra na Palestina. Lá encontra a mesma situação de opressão, contra a qual se tinha rebelado, ao sair do Egito. Na Palestina, encontra a camada de “irmãos” oprimidos, desejosos de sacudir o jugo da escravidão. O grupo de Moisés traz a alternativa longamente esperada. De um lado, sua fé em Javé, Deus único e libertador, derruba a ideologia do sistema opressor dos reis de Canaã. De outro lado, sua nova organização social oferece uma saída concreta, que mobiliza e anima os oprimidos da Palestina. Em que consiste esta nova organização social? A luta contra o faraó fez com que o grupo de Moisés se organizasse num sistema que impedia a volta da escravidão: sob a sugestão de Jetro, o sogro, Moisés descentraliza o poder. Impede-se a acumulação de alimentos, a não ser em caso de necessidade. A organização se faz igualitária, em forma de tribos, sem poder central.

NECESSÁRIO REJEITAR OPRESSÃO PARA PERTENCER AO POVO – Assim organizado, o grupo entra na Palestina. Lá recebe a adesão dos oprimidos e inicia-se uma longa luta contra o sistema dos reis de Canaã, descrita no Livro dos Juízes. A luta não foi contra os habitantes da terra de Canaã, mas contra os reis e o seu sistema opressor. A destruição de Jericó, com suas muralhas, representa esta luta contra os reis; pois os reis viviam nas cidades, de onde exploravam os agricultores. A Bíblia também fala das alianças que Josué fazia com a população local. Criou-se assim uma mística de luta, que exigia mudança e “conversão”. Para poder fazer parte do povo de Deus, era necessário rejeitar o sistema de opressão e engajar-se na luta por uma sociedade mais fraterna. Era necessário rejeitar os falsos deuses e crer em Javé, Deus vivo e verdadeiro, Deus libertador!

UNIÃO DOS OPRIMIDOS COMPÕE O VERDADEIRO POVO DE DEUS – Com a entrada do grupo de Moisés, a situação na Palestina começa a fermentar na base. Um vento novo começa a soprar. Os agricultores, os seminômades e outros se unem ao grupo de Moisés e de Josué, aceitam o Deus Javé e se comprometem com a nova forma fraterna de viver. Começa a nascer e a se organizar o Povo de Deus! Durante 200 anos, eles conseguiram manter esta luta, com altos e baixos. Foi do ano 1250 até mais ou menos 1050 antes de Cristo. Não chegaram a realizar o ideal que tinham em mente, mas chegaram a fazer uma boa parte da estrada. Eles eram, naquela situação, a expressão daquilo que Deus queria para todos os homens. Quais eram as características desse Projeto de Deus, em oposição ao projeto anterior? Para que tudo fique um pouco mais claro, vamos enumerar aqui, uma depois da outra, algumas características da sociedade que eles tentaram organizar.

ACEITAR JAVÉ É COMPROMETER-SE COM A FRATERNIDADE – Primeira Característica: Sociedade Igualitária: Antes, sociedade hierarquizada: Depois, sociedade igualitária. A gente costuma dizer que eles se organizaram num “sistema tribal”. Formaram 12 Tribos de Israel. Isto é certo. Mas convém clarificar que o sistema tribal não era, em primeiro lugar, um sistema baseado no relacionamento de sangue e de parentesco. Mas era, em primeiro lugar, um sistema baseado em determinado relacionamento econômico, social, político e religioso, totalmente diferente do sistema em vigor na Palestina e no Egito. Sistema baseado na exploração do povo pelo aparelho da cidade-estado e do imperialismo do Egito. Eles “tribalizaram” a vida. Esse tipo de organização é baseado na solidariedade mútua. A unidade menor desta organização era a “família patriarcal”. A organização intermediária era o “clã”, composto de famílias patriarcais. A unidade maior era a “tribo”. As 12 Tribos viviam unidas numa espécie de confederação. Tudo se organizava de maneira que a unidade menor, a “família patriarcal”, o povoado, a comunidade local, tivessem autonomia produtiva.

DEMOCRACIA DECADENTE EXIGE INSTALAÇÃO DA MONARQUIA – Eles queriam uma sociedade igualitária, em oposição ao sistema opressor dos reis de Canaã. O texto de 1 Samuel 8,1-22 revela a situação do povo no fim do período dos Juízes, em torno de 1025 antes de Cristo. A gente nota, nesse texto, várias coisas. O sistema igualitário estava enfraquecido. Samuel estava ficando velho e os seus filhos não prestavam. A ameaça de fora, vinda dos filisteus, colocava em perigo a própria sobrevivência do povo como povo livre. Tudo isso fez enfraquecer o compromisso interno do povo com o projeto igualitário e, portanto, com Deus. E, em vez de se renovarem a partir de suas próprias raízes e tradições, começaram a procurar uma saída, imitando o modelo dos reis de Canaã. “Queremos ser como os outros povos! Queremos um Rei!” A propaganda funcionou e mudou a cabeça do povo. Aí Samuel descreve o direito do rei, do jeito que este era praticado pelos povos vizinhos.

O DEUS ÚNICO É O ÚNICO SENHOR DO POVO – Foi contra esse “direito do rei” que o povo, em nome de Javé se tinha rebelado, para construir uma sociedade igualitária, 200 anos antes, sob a liderança de Moisés e Josué. O texto do Deuteronômio 17,14-20 é de uma época bem posterior. É do tempo do Rei Josias, em torno do ano 640 antes de Cristo. Desde Davi até Amon, predecessor de Josias, o povo teve a experiência dolorosa e desastrosa da monarquia. Monarquia quer dizer “governo de um só”, o rei. A reforma deuteronomista pretende voltar às origens do povo e realizar o Projeto de Deus, dentro das possibilidades reais que o momento histórico oferecia. A monarquia já era um fato. O texto mencionado procura adaptar a figura do rei ao ideal de sociedade igualitária. Chama o rei de “irmão” e diz que ele não pode acumular bens. Era o mesmo que manter o nome sem o conteúdo. Além disso, os Livros dos Reis – redigidos pelos mesmos autores que redigiram o Deuteronômio, fazem um julgamento negativo da monarquia.

NASCE A ESPERANÇA ESCATOLÓGICA NA VINDA DO REI JUSTO – Todos os reis são criticados, menos Davi, Ezequias e Josias. A crítica da monarquia aparece também nos profetas Ezequiel, Oséias, Jeremias e nos outros profetas. Davi pôde tornar-se rei, não para ser dono do povo, mas para ser o lugar-tenente de Deus, único Senhor do povo. Mas os reis esqueceram qual era o seu lugar no meio do povo. Tornaram-se donos do povo. A monarquia contribuiu para que voltasse a sociedade opressora dos reis de Canaã. No povo, ficou a saudade do grande rei Davi e nasce a esperança de um novo Rei como Davi, para restaurar a Aliança, o Reino de Deus. Jesus é o Filho de Davi. Ele é o novo Rei “Eu sou rei!” Mas o Reino de Jesus é diferente dos reinos deste mundo. O Reino dele não foi de poder, mas de serviço.

Com minha amizade - Luís

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