DESCANSEM EM PAZ - Comovente a delicadeza de repassar o necrológio dos nossos falecidos. Preso em casa no meu silêncio, foi útil meditação do Dois de Novembro dar uma viajada por aqueles nomes todos; ressuscitar alguns que já tinham falecido na memória; constatar que boa parte do nosso mundo e dos companheiros de juventude e adolescência já cumpriu seus prazos; já se transferiu para os mistérios inalcançáveis das esperanças cristãs. Alguém na lista, Frei Benício (Eudes Cristino, irmão de Frei Leônidas) provocou-me provavelmente o primeiro grande choque com a morte, sem anestesia. Éramos teólogos, na Bahia, quando o pai do Eudes adoeceu para morrer. Eudes tomou o avião para Fortaleza e caiu em Campina Grande. Despedimo-nos à noite desejando boa viagem e fomos acordados, de manhã cedo, pela notícia do sinistro. É daqueles momentos que se gravam indelevelmente na sensibilidade. Que nos empurram, goela abaixo, a indesejada certeza de nossa fragilidade. Outros da lista eram também de minha turma, como o Carlos Wellington e o Manuel Canuto, colega desde Tianguá. Todos estejam lá, aonde nós queremos chegar um dia!
VALENTIA DIANTE DOS PEQUENOS - Achei surpreendente e “bene trovata” sua observação sobre o John Allen, correspondente vaticano do NCR: “meio bobão, com aquela mania de querer fazer-se familiar à cúria e ao papa”. Eu não tinha percebido, mas concordo. Pode ser também que personalidades curiais fizessem questão de parecer próximas e familiares do John Allen, jornalista do Império, financiador e avalista infraestrutural do Vaticano, terra do Peter’s Pence! O complexo de Édipo não me deixa esquecer o dedo em riste de João Paulo II na cara do Ernesto Cardenal, Ministro da Educação da frágil Nicarágua ou, como a chama o amigão Casaldáliga, “minha pequena Nica”. A vantagem de ser ianque deve ter servido de gazua para John Allen abrir as portas da clausura. Eu gostaria de ver a mesma valentia pontifícia diante de ministros WASP (White-Anglo-Saxon-Protestants) e a mesma solicitude com jornalistas de mídias mais humildes.
"NÃO FALAMOS MAL DE NOSSA IGREJA" - Em meus tempos de Rio, Dom Eugênio Salles promovia debates contra “maledicências” na Igreja Católica, para atingir “maledicentes” como Leonardo Boff e Carlos Mesters. Convidou, certa vez, conferencista russa ortodoxa de extrema direita, que por lá passava, em circuito de palestras para a “elite branca” católica anti-comunista. A distinta senhora assumiu o bordão: “Lá em casa, não falamos mal de nossa Igreja”. Sabia-se que a Igreja Ortodoxa Russa, após a perestroika, passara a ser praticamente sustentada pelo Estado, em nome da tradição e preservação da alma da Mãe Rússia. Resultado inevitável: nenhuma palavra de crítica ao sistema, bocca chiusa ante a corrupção desenfreada, nada de contestação aos interesses anti-populares, fora com profetismos! Releio Carlos Mesters sobre Jeremias e percebo que “falar mal” talvez seja outro nome para profetismo. Tendo o convite à palestrante partido de quem partiu e revelando-se ela o que realmente representava, não retiro a observação sobre identidade freqüente entre “maledicência” e “profecia”
ENTRE VOCÊS NÃO SEJA ASSIM! - “É realmente custoso acreditar ser possível comandar uma agremiação de l,2 bilhão de pessoas nos cinco continentes, sem um comando doutrinal, litúrgico e outros que tais...” Sinto refluxo, quando tenho de engolir a palavra “comando”, no universo cristão. “Entre vós não seja assim como entre eles!” Em termos de moral pública, a evangelização mais convincente vem do comportamento pessoal. Em minha modesta e lírica opinião, João XXIII “comandou” os seus mais de um bilhão de fiéis, com a despretensão evangélica e a bondade humana. Com qualidades e atitudes semelhantes, Mahatma Gandhi despertou, levantou e pôs em marcha, em direção à dignidade nacional, o seu bilhão de indianos. Acho que Maximilian Kolbe, profanado e destruído nos fundos escuros de uma cela, em Auschwitz, fez mais pelo “comando” dos cristãos, na marcha para o Reino, do que mitras e tiaras colabôs. Será que minhas inquietações aproximam-se mais de maledicência que de profetismo?
EUCARISTIA CELEBRADA PELA COMUNIDADE - A celebração da Eucaristia, liberta do exclusivismo presbiteral, é questão que muito me envolve. Estou certo de que o Sacramento não foi dado como prêmio, presente ou monopólio a nenhum dos Apóstolos individualmente. Significou a Primeira Reunião da Comunidade, com o objetivo mesmo de reunir a Comunidade e encorajá-la. A Unidade confirma, oficializa e alimenta a Fé de todos e de cada um. Incentivador da coragem e da fé, mais do que sermões e ritos, é o próprio Encontro em si. Pessoas se encontrando e se dando força. O mundo descobre que Jesus veio de Deus, não porque Ele avisou, não em primeiro lugar porque os Apóstolos espalharam, mas porque os cristãos se amam uns aos outros. Mas o assunto produziria tratados! E aponta como, em minha opinião, nossa Igreja está bobeando, perdendo tempo e fiéis, a barca devagar quase parando, carregada de bizantinismos e gongorismos teológicos, inúteis e prejudiciais, que há muito deviam ter sido jogados aos peixes.
PREGAÇÃO CRISTÃ É AMOR FRATERNO - Acabei de participar espiritualmente, pela Rede Vida, na grande celebração de Finados, no Autódromo de Interlagos, presidida pelo bispo franciscano Dom Fernando Figueiredo e pelo Padre Marcelo Rossi o qual, nos últimos tempos, veste-se com o hábito franciscano. O grande encontro da esperança, com lema SAUDADE SIM TRISTEZA NÃO, reuniu dois milhões de fiéis ao redor da Eucaristia. Na conclusão, momento dos avisos finais, ressaltou-se a importância fundamental da Unidade dos Cristãos, união de todos, para sustentar a própria fé e para testemunhar esta fé. Em mundo pagão, desvairado pelas ganâncias materiais e pelas cegueiras espirituais, a Unidade dos Cristãos é a condição para que Jesus seja reconhecido como Enviado do Pai. “O mundo acreditará que eu vim do Pai, se vocês se amarem uns aos outros!” A Unidade dos Cristãos é nossa resistência contra a grande onda, que arrasta, para dentro do mundo, toda espécie de iniqüidade e sofrimento.
EVANGELISMO MERCENÁRIO PARA FATURAMENTO - Em correspondência anterior, noticiei o que saiu, em comentários do NY Times, sobre a presença da Igreja Universal, nos subúrbios latinos das grandes cidades americanas. Nestes subúrbios pobres, de pessoas perdidas em sociedade de concorrência feroz e superação desalmada, pregadores mercenários usam a Bíblia e o Nome de Deus, para “fazer a festa” e encher a sacola. O presente comentário, porém, nada tem a ver com proselitismos ridículos e concorrências sectárias; entra aqui para completar a notícia do jornal americano: os “bispos” da Igreja Universal recusam-se terminantemente a fazer parte da Associação das Igrejas Cristãs. Rejeitam indignadamente pertencer ao conjunto das outras Denominações. Em vez de unidade e congraçamento, na frente única dos cristãos contra o espírito de porco deste mundo, “evangelismo” aventureiro por conta própria e isolamento fanático, frente às outras confissões religiosas. Mais do que as justificadas acusações de charlatanice, curandeirismo e desfrute da credulidade popular, desligamento explícito do conjunto e rejeição da unidade constituem a prova mais eloqüente do desencontro com a recomendação explícita do próprio Jesus.
PERDENDO O JOGO PARA TIME RUIM - Como é que nossa Igreja aparenta estar perdendo o jogo para time tão bisonho? A resposta é evidente: falta de jogadores e complicações desnecessárias na contratação. As arquibancadas estão cheias de gente vestindo a camisa, mas ninguém os convoca! Mas paro por aqui, com nossos abraços. - Luís - www.sluisthomaz.blogspot.com
domingo, 4 de novembro de 2007
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